quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Moradores da Vila Planalto discutem situação do bairro, alvo de especulaçãoAssociação de Moradores da Vila Planalto organiza encontros para discutir a situação do bairro histórico, alvo de especulação. Grupo de trabalho discute formas de revitalizar o local

Publicação: 24/11/2011 08:05 Atualização: 24/11/2011 11:04
Construções de madeira que caracterizavam o tempo dos pioneiros: desde a década de 1980, tradição se degrada (Dênio Simões/Esp. CB/D.A Press)
Construções de madeira que caracterizavam o tempo dos pioneiros: desde a década de 1980, tradição se degrada

Bem próximo dos três palácios presidenciais — o do Planalto, o da Alvorada e o do Jaburu —, a Vila Planalto amarga o esquecimento por parte das autoridades e vive uma fase de completa descaracterização do plano urbanístico. Apesar do descaso, um grupo de trabalho formado por moradores, pioneiros, políticos, engenheiros, arquitetos e urbanistas pretende revitalizar a região. A equipe quer elaborar, até o fim de março de 2012, um projeto para apresentar ao governo local. A ideia é construir novas calçadas, melhorar a iluminação, restaurar as casas históricas e transformar a vila em uma região boêmia do Distrito Federal.

O primeiro encontro para discutir as medidas a serem tomadas ocorreu no restaurante Casarão, em frente à Igreja Nossa Senhora do Rosário de Pompeia. O presidente da Associação de Moradores da Vila Planalto, Vantuil Paulo de Santana, destacou que toda comunidade pede por melhorias na região e quer revitalizar os espaços históricos. “A Vila Planalto sofre bastante com essa descaracterização e esse problema precisa ser resolvido”, avaliou.

Carlos Lima Verde, arquiteto e consultor técnico da associação, informou que existem na Vila Planalto 1.200 lotes, 12 mil moradores e cerca de 1.800 habitações. Segundo ele, o número de domicílios é maior do que o de lotes porque muitos espaços foram fracionados, outros transformados em prédios e as normas de gabarito não são seguidas. “Para conseguirmos alguma mudança, precisamos de vontade política, competências técnicas e administrativas, apoio da população e mudanças na legislação atual. É um trabalho longo, mas necessário.”

Também integrante do grupo de trabalho, o deputado federal Luiz Pitiman (PMDB-DF) vai propor a destinação de R$ 2,5 milhões em emendas ao Orçamento Geral da União de 2012 para serem aplicados pelo Ministério do Turismo em melhorias na Vila Planalto. “Queremos em até quatro meses apresentar uma proposta ao governo e transformar esta região em uma nova área boêmia da capital federal”, disse.

Desafios
O urbanista Carlos Magalhães, pioneiro de Brasília e morador da Vila Planalto desde 1959, convocou a comunidade a participar ativamente do projeto, pois acredita que só é possível revitalizar a área com apoio de todos. “Além do povo à frente da iniciativa, só vou começar a acreditar nesse projeto quando o (Alfredo) Gastal (superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional do DF) disser qual é o gabarito e a poligonal da vila”, desafiou.

Gastal, integrante do grupo que reivindica melhorias locais, relembrou os seis meses em que morou na Vila Planalto quando chegou a Brasília, em 1967: “Esta é uma cidade tombada e cheia de problemas. Precisamos resolvê-los”. O próximo encontro do grupo será amanhã, às 12h, na sede da Superintendência Regional do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB).

As construções de madeira que guardavam parte importante da história de Brasília deram lugar a residências suntuosas de alvenaria. Esse fenômeno começou na década de 1980, quando a paisagem da Vila Planalto sofreu as primeiras transformações. Hoje, 54 anos depois da fundação da cidade que abrigou os pioneiros da nova capital, a região passa por uma nova onda de especulação imobiliária.

A proliferação de prédios de quitinetes, que fere o tombamento, não é a única irregularidade observada nas ruas da Vila Planalto. Construções ilegais em áreas públicas e ocupação de becos, de praças e de áreas verdes são abusos recorrentes. Além disso, muitos pioneiros e seus filhos não resistem às propostas tentadoras de corretores imobiliários e fracionam seus terrenos. O parcelamento indiscriminado dos lotes deixa ainda mais complexa a situação fundiária da vila.

Deterioração
Hoje, existem apenas 19 construções remanescentes em madeira, mas a maioria está em avançado estado de deterioração. Entre as edificações da Vila Planalto, cinco são classificadas como de preservação rigorosa. Entre elas, estão as cinco casas da antiga Fazendinha e a Igreja Nossa Senhora do Rosári
Reportagens recentemente publicadas pelo Correio denunciaram a descaracterização do local (Dênio Simões/Esp. CB/D.A Press)
Reportagens recentemente publicadas pelo Correio denunciaram a descaracterização do local


Eu acho...
“A revitalização da Vila Planalto é uma necessidade. Primeiro, porque a vila faz parte da história do Distrito Federal. A reconstrução do Conjunto Fazendinha faz parte desse pedido da comunidade. Não só a restauração da cidade é necessária, mas a recuperação da calçadas, da iluminação pública e o aumento da segurança. Aqui é um lugar tranquilo, e, para que essa situação permaneça, o investimento precisa ser feito. Queremos cuidar das nossas raízes.”
Efigênia Fernandes, 50 anos, professora, moradora da Vila Planalto desde 1970

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